A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO LIMITE ÀS INTERVENÇÕES GENÉTICAS SOBRE O EMBRIÃO

The Dignity of the Human Person as a Limit to Genetic Interventions on the Embryo

Autores

  • Lígia Carvalho Abreu Universidade Lusófona
  • Bárbara Carneiro Universidade Lusófona

DOI:

https://doi.org/10.62140/yx23gj19

Resumo

Resumo: Há uma característica que é transversal a qualquer fase da humanidade: a sede pela evolução e pelo progresso. A rápida e fervorosa evolução científica e tecnológica levou a resultados estrondosos, possibilitando um conhecimento mais profundo do ser humano. É neste contexto que surge a engenharia genética, área em que se integra e se desenvolve a problemática que assumimos explorar. A engenharia genética caracteriza-se por ser uma aérea de materialização dos almejos científicos e tecnológicos, mais concretamente, ao nível do genoma humano. A descodificação do genoma humano tem permitido avanços médicos e a descoberta de novos caminhos científicos e terapias. Tendo isto em consideração, naturalmente que se levantam questões não só científicas, éticas e morais, mas também jurídicas, em torno das práticas de intervenção no genoma humano associadas ao desenvolvimento da engenharia genética. Uma dessas questões é a compatibilização da inovação com a proteção do valor supremo intrínseco a cada ser humano: a dignidade. Se as práticas científicas e médicas ao serviço da vida e da saúde dos indivíduos, estão em conformidade com o núcleo essencial deste princípio, outras práticas que não servem este propósito poderão conflituar com a dignidade da pessoa humana e evidenciar a difícil conciliação entre a inovação científica e os direitos humanos. Neste âmbito distinguimos as intervenções nas células somáticas das intervenções nas células germinais através de técnicas que permitem a terapia e o aperfeiçoamento genético do embrião, analisando esta temática à luz de uma conceção da dignidade da pessoa humana reconhecida desde o momento da concepção e que abarca o direito à identidade genética. 

Palavras-chave: dignidade; engenharia genética; eugenia; direitos humanos; identidade genética.

 

Abstract: There is a characteristic that is transversal to any phase of humanity: the thirst for evolution and progress. The fast and fervent scientific and technological evolution has led to stunning results that have enabled a deep knowledge of the human being. It is in this context that genetic engineering emerges, an area in which the problem we intend to explore is integrated and developed. Genetic engineering is characterized by being an overview of the materialization of scientific and technological aspirations, more specifically, at the level of the human genome. The decoding of the human genome has allowed medical advances and the discovery of new scientific paths and therapies. Taking this into consideration, it is natural that not only scientific, ethical and moral questions arise, but also legal ones, surrounding practices of intervention in the human genome associated with the development of genetic engineering. One of these issues is the compatibility of innovation with the protection of the supreme value intrinsic to each human being: dignity. If scientific and medical practices serving the life and health of individuals are in accordance with the essential core of this principle, other practices that not serve this purpose may conflict with the dignity of the human person and highlight the difficult reconciliation between scientific innovation and human rights. In this context, we distinguish interventions in somatic cells from interventions in germ cells through techniques that allow therapy and genetic improvement of the embryo, analyzing this theme in the light of a conception of the dignity of the human person recognized from the moment of conception and which encompasses the right to genetic identity.

Key Words: dignity; genetic engineering, eugenics; human rights; genetic identify.  

Biografias do Autor

  • Lígia Carvalho Abreu, Universidade Lusófona

    Professora Associada da Universidade Lusófona. Investigadora integrada do Centro de Estudos Avançados em Direito, Francisco Suarez (CEAD) da Universidade Lusófona e Investigadora Associada do Centro de Investigação em Direito e Sociedade (CEDIS) da Universidade Nova de Lisboa. Doutora em Direito pela Universidade de Genebra. 

  • Bárbara Carneiro, Universidade Lusófona

    Mestranda em Direito na Universidade Lusófona em ciências jurídico-criminais.

Referências

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALEXANDRINO, José Melo. Direitos fundamentais: Introdução Geral. Princípia Editora, 2015.

ASCENSÃO, José de Oliveira. “Intervenções no genoma humano. Validade ético-jurídica.” Estudos de Direito da Bioética, Vol. I. Almedina, 2005, pp.25-47.

BARBAS, Stela. “Testes genéticos, terapia génica, clonagem”. Estudos de Direito da Bioética, Vol. I. Almedina, 2005, 309-328.

BOTELHO, Catarina Santos. “A Dignidade da Pessoa Humana – Direito Subjetivo ou Princípio Axial.” Revista Jurídica Portucalense/ Portucalense Law Journal, nº21. 2017, pp. 256-282. Disponível em: <https://revistas.rcaap.pt/juridica/issue/view/752.> (Acesso a 8 de Fevereiro de 2024)

BRAUNER, Maria Cláudia e OLIVEIRA, Carolina. “Os limites à seleção e terapias genéticas sobre o embrião e a necessidade de manifestação do direito.” Publica Direito. Publicação XXIII Congresso Nacional CONPEDI/UFPB, 2014, pp.135-154 < http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=a2b121776e9f9e18> (acesso 8 de Fevereiro de 2024)

BUYSE, Antoine. Dignified Law: The Role of Human Dignity in European Convention Case-Law. ECHR Blog, 2016. (Disponível em: <https://www.echrblog.com/2016/10/the-role-of-human-dignity-in-echr-case.html>(Acesso a 8 de Fevereiro de 2024)

CANOTILHO, J.J Gomes e MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa Anotada, Vol. I, Artigos 1º a 107º. Coimbra Editora, 4ª Edição – Reimpressão, 2014.

ÇELIK, Elif. Exploring the use of the concept of human dignity in disability human rights law: form the CRPD to ECtHR. The Age of Human Rights Journal, nº 17, 2021, pp. 27-53. (Disponível em: <https://www.echr.coe.int/LibraryDocs/CELIK-2021-Human_dignity_in_disability_human_rights_law.pdf> (Acesso a 8 de Fevereiro de 2024)

COSTA, Judith Martins. “Bioética e Dignidade da Pessoa Humana: rumo à construção do Biodireito.” Estudos de Direito da Bioética, Vol.II. Almedina, 2008, 87-109.

HABERMAS, Jürgen. O Futuro da Natureza Humana – A caminho de uma eugenia liberal? Almedina, 2006.

HABERMAS, Jürgen. O Futuro da Natureza Humana. A caminho de uma eugenia liberal?Tradução Karina Jannini. Martins Fontes, 2004.

MARTINS, Ana Maria Guerra. Direito Internacional dos Direitos Humanos. Almedina, 2017.

MIRANDA, Jorge e MEDEIROS, Rui. Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I – Introdução Geral, Preâmbulo, Artigos 1º a 79º. Coimbra Editora, 2ª Edição, 2005.

MIRANDA, Jorge “A Dignidade da Pessoa Humana e a Unidade Valorativa do Sistema de Direitos Fundamentais.” Revista do Ministério Público do Rio de Janeiro, nº 52, Abril/Junho de 2014, pp.71-91. (Disponível em: <https://www.mprj.mp.br/documents/20184/2550135/Jorge_Miranda.pdf> (acesso a 8 de Fevereiro de 2024)

JORGE MIRANDA, Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 4ª edição, Coimbra, 2008.

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Tradução Paulo Quintela. Edições 70, 1960, Disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7828872/mod_resource/content/1/Fundamenta%C3%A7%C3%A3o%20da%20Metaf%C3%ADsica%20dos%20Costumes%20-%20Immanuel%20Kant.pdf> (acesso 29 de Fevereiro 2024).

MORGADO, Marta da Fonseca. “Intervenções no genoma humano: problemática ético-jurídica”. RJLB, Ano 2, nº 6, 2016, pp. 1119 a 1160. Disponível: < https://www.cidp.pt/revistas/rjlb/2016/6/2016_06_1119_1160.pdf> (acesso a 8 de Fevereiro de 2024)

MOTA, Henrique. “Interrupção voluntária da gravidez”. Estudos de Direito da Bioética, Vol. I, Almedina, 2005, pp.298-308.

NUNES, Rui Manuel Lopes. “Informação genética pessoal e informação de saúde”. Estudos de Direito da Bioética, Vol. II. Almedina, 2008, pp. 299-316.

OSSWALD, Walter. “Diagnóstico genético e medicina predizente. Diagnóstico pré-natal.” Estudos de direito da Bioética, Vol. I. Almedina, 2005, pp.17-23.

PEREIRA, Ana Leonor. Eugenia em Portugal. Revista da História das Ideias – O Livro e a Leitura. Volume 20, Instituto de História e Teoria das Ideias Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1999, pp. 531-600.

REZENDE, Danúbia Ferreira Coelho de. Direito e Genética: Limites jurídicos para a intervenção no genoma humano. Belo Horizonte: Arraes, 2012.

ROHLING, Marcos. “Habermas e a crítica à eugenia liberal.” Pólemos, Brasília, vol.2, nº 3, Julho 2013, pp. 165-184 < https://periodicos.unb.br/index.php/polemos/article/view/11554> (acesso 8 de Fevereiro de 2024)

SERRÃO, Daniel. “Os desafios contemporâneos da genética.” Estudos de Direito da Bioética, Vol. II. Almedina, 2008, 369-379.

SINGER, PETER. “De compras del supermercado genético”. Isegoría. Nº 27, pp. 19-40. Disponível <https://isegoria.revistas.csic.es/index.php/isegoria/article/view/552> (acesso 8 de Fevereiro de 2024)

SLOTERDIJK, Peter. Regras para o parque humano – Uma resposta à “Carta sobre o Humanismo”. Angelus Novus, 2007.

ZATZ, Mayana. “Genética e Ética”. Revista CEJ. Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, Brasília, n. 16, mar. 2002, ano VI, pp. 23-25.

WERTHEIN, Jorge, BORGES, Maria Dulce Almeida e CUNHA, Célio da Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, UNESCO, 2001 Disponível em <https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000122990_por/PDF/122990por.pdf.multi> (acesso 8 de Fevereiro de 2024)

Publicado

17-06-2024

Edição

Secção

Artigos Completos

Como Citar

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO LIMITE ÀS INTERVENÇÕES GENÉTICAS SOBRE O EMBRIÃO: The Dignity of the Human Person as a Limit to Genetic Interventions on the Embryo. (2024). Revista Ibérica Do Direito, 4(1). https://doi.org/10.62140/yx23gj19